Pela primeira vez desde 2004, bolsa fica sem IPOs
Alta dos juros e incertezas locais e globais afastam novas empresas da B3
Pela primeira vez desde 2004, ano em que o Novo Mercado recebeu a sua primeira listagem, um ano terminou sem nenhuma oferta pública inicial (IPOs) de ações na B3. Em 2022, todas as ofertas públicas de ações foram subsequentes, de empresas que já têm ações listadas na bolsa e voltam ao mercado. Pesou contra a entrada de novas empresas na bolsa a elevação dos juros nos países desenvolvidos, a inflação e juros em alta no Brasil e a indefinição no cenário político. Em meio à incerteza, as novas companhias estiveram menos propensas a buscar recursos no mercado. Os investidores costumam preferir as companhias que já têm histórico na bolsa, consideradas menos arriscadas do que aquelas que estão chegando ao mercado.
Mesmo em 2014, ano em que houve apenas duas ofertas na bolsa, uma delas foi um IPO (no caso, da Ourofino). Em 2015, outro ano bastante difícil para o mercado acionário, que contabilizou apenas cinco ofertas na B3, também houve uma inicial (da Par Corretora).
Ao todo, 19 empresas captaram recursos na bolsa em 2022, movimentando 57,5 bilhões de reais, de acordo com dados da B3 (cerca de 30 bilhões se referem à oferta da Eletrobras). A maioria esteve presente por meio de ofertas públicas com esforços restritos de distribuição (por meio da antiga Instrução 476/09). Dessas 19 ofertas, apenas 5 foram ofertas públicas direcionadas ao grande público de investidores (via Instrução 400/03, revogada).
No fim do ano passado, a expectativa de profissionais do mercado era de que essa situação desfavorável aos IPOs mudasse. Conforme relatou reportagem do Valor Econômico, profissionais consideravam que havia espaço para que essas operações começassem a ganhar força no segundo semestre, por conta da demanda reprimida das empresas e dos investidores.