Sinais da compra do Big pelo Carrefour para as operações de M&A

Megatransação de 7,5 bilhões de reais evidencia possibilidade de recuperação da economia em médio e longo prazos

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Perto do fim do primeiro trimestre deste desafiador 2021, o mercado brasileiro testemunhou a conclusão da maior operação de aquisição já feita no varejo nacional. O grupo francês Carrefour comprou a rede Big, por 7,5 bilhões de reais. De acordo com notícias publicadas na imprensa, apesar da magnitude, a operação foi fechada depois de poucos meses de negociação. Embora com o agravamento da pandemia as perspectivas para a economia brasileira ainda sejam pouco animadoras para operações de M&A, a aposta do Carrefour mostra que resiste um certo otimismo de médio e longo prazos.

Reduz essa dose de otimismo o fato de a megatransação ter ocorrido num segmento pouco afetado pela crise da pandemia, o de varejo alimentar. Com seu caráter de serviço essencial, praticamente não sofreu influência das restrições de atividades econômicas para o controle da disseminação do novo coronavírus. Ainda assim, há uma esperança no futuro. “A operação feita pelo grupo Carrefour com a aquisição do Big demonstra uma confiança na recuperação da economia, movimenta as demais empresas e acarreta credibilidade para o mercado brasileiro a médio e longo prazos”, comenta Pedro Mourão, sócio do Nankran & Mourão Sociedade de Advogados.

“É importante destacar a relação entre a pandemia e o mercado de varejo, uma vez que na grande maioria dos países — como no Brasil — o varejo de alimentos está entre as atividades essenciais, que continuaram com suas atividades, ainda que com algumas restrições. Isso contribuiu diretamente para que o setor fosse menos impactado pelas políticas de combate à pandemia”, pondera Paula Chaves, sócia do Coimbra & Chaves Advogados.

“Apesar de estarmos passando por uma das maiores crises financeiras do País, com a taxa de desemprego estimada em 17% para o primeiro semestre de 2021, o mercado nacional ainda pode oferecer grandes vantagens para investidores nacionais e internacionais”, observa Thomas Magalhães, sócio do Magalhães & Zettel Advogados.

A seguir, Mourão, Chaves e Magalhães abordam outros aspectos da operação e de sua relação com as possibilidades do M&A no País.


Recentemente, o grupo francês Carrefour adquiriu, por 7,5 bilhões de reais, a rede varejista Big, na maior operação já feita no varejo brasileiro. O que representa uma transação dessa magnitude para o mercado de operações de M&A no País?

Trata-se, como noticiado, da maior transação já realizada no âmbito do varejo a nível nacional, transformando o Carrefour Brasil na segunda maior rede varejista da América Latina, ficando atrás apenas do Walmex.

De acordo com informações da operação, o grupo Carrefour passará, com a aquisição, a ter 24% do varejo alimentar do Brasil, bem como entrará em regiões até então pouco exploradas, como o Nordeste e o Sul do País. Além do aumento em seu faturamento, com previsão de até 100 bilhões de reais, com o anúncio do fechamento do negócio as ações do grupo tiveram uma forte alta.

Sabe-se, contudo, que a pandemia de covid-19 vem gerando diversas incertezas para a economia e o mercado mundial, notadamente o brasileiro. Não há dúvidas de que o Brasil sofrerá ainda mais, por alguns anos, com a crise decorrente de todas as medidas de restrição de circulação e de paralisação das atividades econômicas.

Assim, a operação feita pelo grupo Carrefour com a aquisição do Big demonstra uma confiança na recuperação da economia, movimenta as demais empresas e acarreta credibilidade para o mercado brasileiro a médio e longo prazos.

Vale ressaltar que, por envolver riscos à livre concorrência, a operação ainda passará pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Essa transação é mais um sinal de que, mesmo em um cenário econômico adverso, o mercado brasileiro continua apresentando grandes oportunidades de investimento para grupos internacionais, como o Carrefour.

Esse sinal positivo para o mercado nacional de M&A é evidenciado na publicação1 de comunicado de fato relevante pelo Carrefour, no qual o grupo afirmou que, por trás do racional da operação, está o plano de ampliação da rede em regiões onde há forte potencial de crescimento, como as regiões Norte e Sul.

Além disso, é importante destacar a relação entre a pandemia e o mercado de varejo, uma vez que na grande maioria dos países — como no Brasil — o varejo de alimentos está entre as atividades essenciais, que continuaram com suas atividades, ainda que com algumas restrições. Isso contribuiu diretamente para que o setor fosse menos impactado pelas políticas de combate à pandemia.

A operação representa um aquecimento da economia brasileira, visto que o grupo francês adquiriu a rede Big em proporções extraordinárias. Para o cenário atual, pode ser considerado como um impulso para outros setores da economia, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, onde o grupo Carrefour pretende atuar com mais força.


De alguma maneira a megaoperação demonstra confiança de alguns setores da economia real apesar do agravamento da pandemia e da consequente piora das perspectivas para a economia? Por quê?

As perspectivas de piora da economia realmente existem, principalmente pelo aumento do número de casos de covid-19 e, consequentemente, pelas recentes medidas de restrição aplicadas a nível nacional.

Sem adentrar no mérito da pertinência da aplicação de medidas restritivas para contenção de um colapso no sistema de saúde, como fechamento do comércio e lockdown, não são todas as áreas da economia e do mercado que conseguem resistir. Alguns segmentos, por outro lado, não foram tão afetados, principalmente no caso das empresas que conseguiram se adaptar e enxergar oportunidades na crise.

O ramo de varejo alimentício, mormente por se tratar de serviço essencial e pelo fato de trabalhar com produtos consumidos diariamente por toda a população, é uma área pouco afetada pela crise.

Nesse sentido, a operação noticiada pelo grupo Carrefour, sem dúvida, demonstra a confiança no setor de varejo alimentício. É possível enxergar, ademais, uma boa estratégia adotada, eis que com a crise o consumidor brasileiro está buscando oportunidades de preço, ou seja, adquirir produtos mais baratos. Como informado pelo diretor financeiro do grupo Carrefour, Sebastien Durchon, algumas lojas serão convertidas para as bandeiras que oferecem produtos com segmentos mais baratos (Atacadão, por exemplo).

Sim. A operação é mais uma evidência de que o mercado de serviços e produtos essenciais, como alimentos, por exemplo, está sendo menos afetado diretamente com as políticas públicas de combate ao vírus.

Que a pandemia é um evento catastrófico em todos seus aspectos, não há dúvida. Porém, é preciso entender que cada setor da economia sente os seus impactos de forma e em intensidade próprios. A operação de aquisição da rede Big confirma, de certa forma, que as atividades de varejo de alimentos, supermercado e comércio eletrônico não foram tão diretamente impactadas ao longo de toda pandemia, uma vez que, em sua maioria, não foram paralisadas ou substancialmente restringidas pelas medidas governamentais de combate à pandemia.

A transação aumenta a confiança no mercado de M&A, considerando que, apesar de estarmos passando por uma das maiores crises financeiras do País, com a taxa de desemprego estimada em 17% para o primeiro semestre de 2021, o mercado nacional ainda pode oferecer grandes vantagens para investidores nacionais e internacionais, assim como ocorreu com a aquisição da rede Big pelo grupo Carrefour.

Com a segunda onda da pandemia de covid-19 e a paralisação de atividades em diversas regiões brasileiras, um dos setores que mais crescem no momento é o de grandes redes de varejo de alimentos, dada a sua solidez de mercado. Em virtude desse crescimento e da magnitude da aquisição, o grupo francês pretende abranger regiões com grande potencial, como o Nordeste e o Sul, estimando, assim, um aumento na sua base de negócios e gerando mais empregos para essas regiões.


À parte as operações de grande porte e repercussão como a Big-Carrefour, existe espaço hoje no Brasil para M&As de uma maneira geral? Há setores de destaque?

A despeito da crise ocasionada pela covid-19, existe espaço para operações de M&A no Brasil. Inclusive, conforme levantamento realizado pela PwC, no período de janeiro a setembro de 2020 houve um aumento de 34% nas transações na comparação com a média dos cinco anos anteriores.

É fato também que, no início da pandemia, principalmente pelo receio causado aos empresários, houve um desaquecimento grande no mercado. Entretanto, percebeu-se que a pandemia pode ser uma boa oportunidade, considerando que pequenas empresas, diante da crise e falta de recursos, podem buscar se unir com empresas de porte mais elevado; que houve um aumento da taxa de câmbio, acarretando um cenário favorável para investimentos estrangeiros; e que existem áreas com crescimento de demanda, como o varejo alimentício.

Apesar das dificuldades enfrentadas com a pandemia e seus efeitos, o mercado brasileiro nunca deixou de ser atrativo para operações de M&A. A conjugação da baixa taxa de juros — que facilita a obtenção de financiamentos — com a necessidade de capitalização enfrentada por alguns setores gera ambiente fértil para operações de M&A em diversos setores da economia.

Empresas que atuam no mercado de seguros em geral, saúde, entretenimento virtual, plataformas de delivery e mercado farmacêutico, por exemplo, podem protagonizar operações, na medida em que sofrem menos impactos das políticas para contenção do vírus e, em alguns casos, aumentaram a aptidão para investimentos em suas atividades durante o isolamento social.

No início da pandemia, com as instabilidades enfrentadas pelo mercado em geral, houve uma retenção nas operações de M&A. Atualmente, no entanto, verifica-se uma crescente nesse ramo. O mercado varejista aparentemente pode ter atingido o ápice nas operações de fusão e aquisição, mas outros setores, como saúde em geral, plataformas digitais e mercado farmacêutico, podem impulsionar as operações ainda em um quadro pandêmico.


Quais fatores impulsionam ou freiam as negociações e concretizações de operações de M&A no Brasil na atual circunstância?

Alguns dos fatores que impulsionam são falta de recursos para pequenas e médias empresas; aumento da taxa de câmbio; crescimento em determinados setores da economia, como saúde e varejo alimentício; e oportunidades verificadas por empresas de grande porte, como ocorreu no caso do grupo Carrefour.

Por outro lado, freiam as negociações incerteza política e econômica; medidas restritivas, que muitas vezes acarretam falência ou fechamento de negócios; alavancagem de dívidas que se tornam impossíveis de pagar; e ausência de adaptabilidade por parte de determinados empresários, notadamente na área tecnológica.

Um dos fatores que pode dificultar as operações de M&A é a instabilidade que vivenciamos quanto aos rumos da pandemia em território nacional. O seu avanço nos últimos meses, enquanto a vacinação ainda se mostra incipiente, pode, em um primeiro momento, frear o avanço de negociações de operações de M&A. Sem a previsão de funcionamento normal do mercado e com setores da economia ainda sendo diretamente impactados pelas medidas de contenção à pandemia, investidores podem optar por esperar para analisar melhor o cenário econômico das companhias targets.

Por outro lado, a crise econômica expõe uma maior necessidade de caixa por determinadas companhias, o que pode ser visto como um cenário de oportunidades para “compras vantajosas” por certos investidores.

As instabilidades advindas da pandemia de covid-19, como a imprevisibilidade de datas finais para as restrições de contato social em certas regiões, podem ser caracterizadas como freios para determinadas operações de M&A. Contudo, para os setores que continuam em alta, ainda que em período pandêmico — como, por exemplo, aplicativos de delivery e empresas do segmento de saúde — podem ser objeto impulsionador para as operações de fusão e aquisição.

 

1 https://api.mziq.com/mzfilemanager/v2/d/32539bbc-7be4-42e1-a485-98a052dc3a81/a8f1f036-445f-7bce-ec07-657b14c1a05d?origin=1

 

 

1 comentário
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