Nubank opta por ficar apenas na Bolsa de Nova York

Após distribuir BDRs para clientes em ação de marketing, neobanco vai fechar o capital no Brasil

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Dez meses após realizar uma dupla listagem simultânea na B3 e na Bolsa de Nova York, o Nubank resolveu fechar o seu capital no Brasil e ficar com a listagem apenas no exterior. A iniciativa deve trazer perdas de informação e liquidez para os investidores brasileiros. O neobanco tem uma enorme base de acionistas por meio de um programa de distribuição gratuita de Brazilian depositary receipts (BDR) a clientes que se cadastraram na corretora do banco — o NuSócios. 

Em 15 de setembro, o Nubank anunciou que vai encerrar o programa de BDR nível 3. Seguirão negociados por aqui apenas os BDRs nível 1, que não exigem que a companhia siga a prestação de informações conforme as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Posteriormente, o registro de companhia aberta “categoria A” será cancelado. Conforme mostrou reportagem do Infomoney, a mudança não foi bem recebida por analistas, que consideram que haverá uma redução das informações prestadas aos investidores locais — o Nubank continuará seguindo as regras norte-americanas, mas não mais as brasileiras — e da liquidez, que deve se concentrar lá fora.

Na cerimônia de toque de campainha para marcar o início das negociações na bolsa, o fundador da fintech, David Vélez, havia afirmado, em nota da B3: “Este é um momento histórico para o Nubank, que coroa esses oito anos de trabalho. Desde o primeiro momento em que decidimos fazer o IPO, tínhamos claro que seria uma dupla listagem e fizemos o NuSócios para reconhecer a participação dos nossos clientes nessa trajetória, ajudando a democratizar a bolsa de valores do Brasil com 7,5 milhões de pessoas que pediram um pedacinho do Nubank”. 

A iniciativa pode ter contribuído para aumentar o número de clientes do banco. Quando listou seus papéis, o Nubak distribuiu gratuitamente BDRs nível 3 aos seus clientes — mais de 7,5 milhões deles passaram a ser acionistas indiretos, por meio dos recibos. O Nubank se notabilizou pelo seu marketing e pela postura inovadora, mas polêmica. Um desses aspectos foi a indicação da cantora Anitta como conselheira de administração (que ficou pouco mais de um ano no conselho). 

Agora, os detentores de BDRs terão três opções. Uma delas, mais complicada, é trocar os BDRs nível 3 por ações listadas em Nova York. Mas, para isso, o investidor terá de abrir uma conta em corretora americana e fazer uma remessa de recursos. Outro ponto que dificulta essa conversão é a relação de troca: 6 BDRs para 1 ação. 

Outra opção é converter o BDR nível 3 em BDR nível 1, que continuará sendo negociado na B3. No entanto, a expectativa é que a liquidez dos BDRs se reduza, pois as negociações seriam concentradas nas ações lá fora. A troca de BDR nível 3 para nível 1 será feita na proporção de um para um. 

A terceira opção é a venda dos papéis, que pode ocorrer no pregão ou por um programa que deve ser criado pelo banco. Pelo programa NuSócios, havia um lock-up (regra de manutenção da posição na ação) de um ano, que se encerra em dezembro. O banco ainda vai divulgar mais detalhes sobre todo o processo. 

A justificativa dada pelo Nubank foi “maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição”, o que soou estranho, pois empresas que abrem o capital em dois mercados teoricamente o fazem conscientes das exigências e dos custos duplicados (e potenciais benefícios).

Desde o início das negociações, os papéis registraram queda de 59,5% na B3 (cotação de 9/12/21 a 03/10/22). Os BDRs chegaram ao piso em maio, quando a desvalorização bateu quase 73%. A elevação dos juros e a regulamentação do Banco Central que requer mais capital das fintechs vêm jogando contra as ações e os recibos. 

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