Venda de ações em bloco cresce com mercado volátil
Atraídas pela agilidade da transação, mais companhias vêm realizando block trades
Neste ano de juros elevados no Brasil, poucas empresas têm ido à bolsa para vender ações por meio de ofertas públicas iniciais (IPOs) ou subsequentes (follow-ons). Mas outra forma de se desfazer dos papeis vem se tornando mais comum: a venda de ações em bloco (block trade). O número de companhias que optaram pelos block trades na B3 supera o daquelas que realizaram follow-ons.
De acordo com reportagem do Valor Econômico, até abril sete companhias realizaram block trades na B3: Banco Inter, PetroRecôncavo, Raízen, M. Dias Branco, GPS Participações e Empreendimentos, Vivara e SmartFit – operações que movimentaram 2,58 bilhões de reais, ainda segundo a reportagem. As vendas em bloco podem ser feitas apenas para operações secundárias (nas quais não ocorre a emissão de ações) e são realizadas por meio de leilão na B3. O processo de formação de preços não ocorre via bookbuilding, ao contrário das ofertas públicas, mas sim por meio de um acordo entre o acionista vendedor e o banco que coordena a operação.
Neste ano, até o fim de maio, foram finalizadas três ofertas subsequentes na B3: Assaí, Hapvida e Dasa. A primeira, unicamente secundária, movimentou 4 bilhões de reais. Já os follow-ons da Hapvida e da Dasa foram unicamente primários e movimentaram 1,1 bilhão de reais e 1,7 bilhão de reais, respectivamente. Em 2022, nenhuma companhia nova listou ações na B3.
A opção pelo block trade é fruto da agilidade com que a operação pode ser estruturada – o que é especialmente importante em momentos em que o mercado está mais volátil, quando a chamada janela de oportunidade para captar recursos abre e fecha com rapidez. Atualmente, a percepção da maioria do mercado é que os juros norte-americanos possivelmente pararam de subir, mas permanecerão altos por algum tempo. E ainda não há um consenso sobre se a desaceleração da economia do país será suave ou brusca. No Brasil, há uma expectativa de que o processo de queda dos juros comece ainda neste ano, mas que as taxas ainda permaneçam atraentes e que a preferência continue recaindo sobre a renda fixa. Nesse cenário, a disposição dos investidores para comprar ativos de risco como as ações pode mudar bruscamente, malogrando tentativas de realizar IPOs ou follow-ons.