Investidores estrangeiros mais distantes dos IPOs

Instabilidades políticas e econômicas contribuem para afastamento

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Um levantamento feito recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo com base em dados da B3 mostra que a participação de investidores estrangeiros em IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) no Brasil recuou do patamar de 70% das operações entre 2004 e 2012 para a casa de 30% desde 2019. Nas operações dos primeiros meses de 2021, a fatia não passa de 20%.

Na avaliação de Thomas Magalhães, sócio do Magalhães & Zettel Advogados, as instabilidades políticas e econômicas no Brasil, intensificadas desde 2014, ajudam a explicar o esmorecimento do interesse dos estrangeiros pelo mercado acionário local quando se trata de novas listagens. Mas no médio prazo as perspectivas podem ser um pouco mais animadoras. “O aumento da procura dos investidores de varejo pelos IPOs só demonstra o atual grau de aquecimento do mercado de capitais — isso, por sua vez, pode demonstrar confiança para os investidores estrangeiros nos próximos meses”, observa.

De acordo com o mais recente balanço da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), depois de um primeiro trimestre aquecido em ofertas, abril não teve nenhuma operação, cenário que pode sugerir uma postura mais reticente dos investidores. De janeiro a abril, mostram os dados, os IPOs no Brasil movimentaram 21,8 bilhões de reais, o que representa um avanço de 626% ante os 3 bilhões de reais das listagens de igual período de 2020.

A seguir, Magalhães aborda outros pontos dos investimentos estrangeiros em IPOs no País.


A que poderia ser atribuída essa menor participação dos estrangeiros nos IPOs no Brasil?

As instabilidades financeiras, políticas e econômicas do País, assim como a desvalorização da moeda nacional em relação a moedas estrangeiras têm contribuído para o afastamento do capital estrangeiro das companhias brasileiras. A pandemia de covid-19 também contribui para essa situação, na medida em que o distanciamento social em várias partes do mundo ainda afeta o dia a dia de negociações.


Qual a importância de investidores de outros países comprarem ativos nacionais nas ofertas iniciais de ações? Eles são essenciais para o sucesso das ofertas?

A injeção de capital estrangeiro em companhias brasileiras é um sinal de competitividade diante do cenário econômico internacional, oferecendo benefícios para as ofertas no mercado regulado.


A queda da presença de estrangeiros nas operações estaria de alguma forma relacionada ao aumento do interesse dos investidores brasileiros de varejo pela bolsa nos últimos anos?

Não necessariamente. As instabilidades políticas no Brasil desde 2014 compõem o fator mais relevante nesse caso. O aumento da procura dos investidores de varejo pelos IPOs só demonstra o atual grau de aquecimento do mercado de capitais — isso, por sua vez, pode demonstrar confiança para os investidores estrangeiros nos próximos meses.


Na sua avaliação, existe a perspectiva de volta dos estrangeiros aos IPOs no Brasil em curto prazo?

Sim. A bolsa brasileira tem neste ano o maior número de IPOs desde 2007 e essa grande onda de ofertas públicas tende a continuar em alta nos próximos meses. Essa previsão pode soar como uma boa notícia para os investidores estrangeiros, à medida que demonstra a vantagem competitiva de se atuar no mercado de capitais brasileiro. Ademais, um cenário de estabilidade política e econômica atrai olhos extrafronteriços, o que pode vir a acontecer com a aceleração das vacinações contra a covid-19 e com a continuidade da desvalorização do real com relação às demais moedas estrangeiras. O câmbio é atrativo relevante para um impulso das operações de IPO com participação estrangeira.

 

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