Conselhos relegam mudança climática ao segundo plano

Pesquisa do IBGC e do Chapter Zero Brasil mostra descomprometimento com o tema

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Apesar de a mudança climática ser considerada um dos principais desafios da atualidade, os conselhos de administração e consultivos das empresas brasileiras ainda não estão prestando a devida atenção ao assunto – e tampouco preparando suas organizações para lidar com essa nova realidade. Foi o que mostrou a pesquisa Board scorecard: a atuação dos conselhos frente aos impactos climáticos e à estratégia net zero, realizada pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e pelo Chapter Zero Brazil (capítulo brasileiro da Climate Governance Initiative).

Os 104 participantes da pesquisa avaliaram o preparo dos conselhos de suas organizações para lidar com a questão da mudança climática e com a transição até a zeragem das emissões líquidas de gases do efeito estufa (net zero) de suas empresas. Esse preparo foi analisado sob quatro óticas: liderança, propriedade, estratégia e mensuração.

Na primeira, o objetivo foi verificar se o conselho estava preparado e informado para impulsionar as mudanças da companhia até a estratégia net zero. E a maioria considerou que não. Apenas 35,6% disseram que o tema está presente na agenda do conselho pelo menos quatro vezes ao ano, com objetivos claros, dados e informações robustas para a discussão. Para 40,4%, não havia clareza sobre a responsabilidade do conselho e dos executivos pelas decisões de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). E 19,2% sinalizaram uma posição de neutralidade (indicando desconhecimento, não aplicabilidade à organização ou não execução da prática). 

No bloco propriedade, buscou-se verificar se o conselho era responsável pelo engajamento, pela governança e por impulsionar as mudanças para atingir as metas climáticas. Aqui, mais uma vez, o resultado deixou a desejar: 65,4% disseram que as metas relacionadas ao clima não estavam incorporadas aos incentivos e à remuneração dos executivos de maneira significativa e mensurável. Outros 43,3% consideraram que a questão climática não estava incorporada na avaliação de riscos e oportunidades, nem na estratégia central dos negócios. 

A avaliação das estratégias, planos e recursos das organizações para reduzir as emissões de GEE, adaptar-se às mudanças climáticas e incorporá-las à estratégia geral de negócios e ao objetivo da organização foram o ponto avaliado no bloco estratégia. 58,6% dos participantes disseram que o conselho não analisou a estratégia dos negócios considerando pelo menos dois cenários de mudanças climáticas. Também 58,6% consideraram que o conselho não estabeleceu a meta net zero e nem estava alinhado ao compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, conforme o Acordo de Paris. Para 60,6%, o conselho em que atuam não considera a questão climática nas suas decisões de investimento.

E, como não podia deixar de ser, o atraso também aparece no bloco mensuração, que buscou verificar como estava a avaliação das emissões de carbono da organização, assim como sua revisão e sua comunicação. Apenas 30,7% dos respondentes consideraram que a empresa avalia os impactos da transição net zero em todas as suas operações e decisões de investimento por meio do GHG Protocol para avaliar as emissões de escopo 12 e 23 (o escopo 1 é relativo a emissões da própria empresa e o 2 ao uso de energia).  Somente 21% dos participantes consideram que a empresa em que atuam entende suas emissões enquadradas no escopo 34 (o escopo 3 considera também emissões dos fornecedores e de toda a cadeia produtiva) do GHG Protocol e possuem uma abordagem que cobre todos os seus produtos e serviços.

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