Índice de sustentabilidade avança na transparência

Nova metodologia do ISE prevê divulgação de notas obtidas pelas empresas

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A nova metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi recentemente anunciada, após um processo de discussão e revisão iniciado no ano passado, quando o indicador da B3 completou 15 anos. Foi a alteração mais significativa desde a criação do ISE, em 2005. O objetivo da mudança é tornar o índice mais simples e transparente, além de adequá-lo à evolução da agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). O ISE é composto por ações de companhias comprometidas com a sustentabilidade empresarial. 

As principais mudanças foram a adoção de questionários específicos, voltados aos setores de atuação das companhias, e a divulgação das notas obtidas pelas empresas. Além da divulgação da nota geral, serão tornadas públicas as pontuações obtidas em cada um dos 28 temas abordados. Essas informações estarão disponíveis no site do ISE (www.iseb3.com.br) a partir de janeiro do ano que vem, quando a nova metodologia começa a valer. 

As notas das empresas referentes à sua atuação frente às mudanças climáticas serão baseadas na avaliação do Carbon Disclosure Project (CDP), instituição que recebe informações de empresas e governos a respeito de suas emissões de gases do efeito estufa (GEE). Outra parceira será a RepRisk, especializada na análise de dados relacionados aos aspectos ESG e do risco reputacional de companhias. 

A expectativa da B3 é que, com essa mudança, o mercado possa comparar as práticas ESG de companhias de um mesmo setor, bem como fazer comparações intersetoriais e internacionais.  “Esse tipo de iniciativa tende a ser muito bem-visto pelo mercado, uma vez que incentiva as empresas a desenvolverem negócios e produtos mais sustentáveis e auxilia na tomada de decisão do investidor, tornando todo o processo mais transparente”, afirmam Felipe Hanszmann e Caio Brandão Teixeira Leite, sócio e associado do Vieira Rezende Advogados. A seguir, eles detalham as mudanças na metodologia do indicador.


Recentemente, a B3 promoveu alterações na metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Em que consiste esse indicador da bolsa brasileira e qual sua relevância para o mercado de capitais nacional?

Felipe Hanszmann e Caio Brandão Teixeira Leite: O ISE foi criado em 2005 pela B3 e consiste na aplicação de metodologia própria para avaliar o desempenho médio das cotações de empresas listadas que possuam práticas de sustentabilidade empresarial, a fim de auxiliar os investidores em sua tomada de decisão e incentivar a prática de atividades sustentáveis pelas empresas. Em linhas gerais, o ISE analisa impactos pessoais e difusos decorrentes da natureza da atividade empresarial exercida, bem como critérios e indicadores de governança corporativa, econômico-financeiro, ambiental, social e mudança climática do emissor.


Quais são as principais modificações determinadas pela bolsa?

Felipe Hanszmann e Caio Brandão Teixeira Leite: Em resumo, as mudanças podem ser divididas em duas categorias: em relação ao ISE e em relação às empresas. Em relação ao ISE: (i) divulgação detalhada das notas individuais obtidas pelas empresas avaliadas (inclusive as que não venham a compor a carteira), permitindo a comparação entre setores e companhias; (ii) questionário customizado para os setores de atuação das empresas; (iii) adição do risco reputacional como critério de eliminação das empresas que compõem o ISE; e (iv) revisão da carteira das empresas que compõem o índice duas vezes ao ano (maio e setembro), em vez de apenas uma vez. 

Já com relação às empresas: (i) simplificação, reformulação e redução das perguntas que compõem o questionário; (ii) inscrições gratuitas (anteriormente o valor podia chegar até 35 mil reais); (iii) alinhamento com padrões internacionais; (iv) eliminação da quantidade máxima de empresas que compõem o ISE; e (v) elevação do nível de transparência.


Na sua opinião, em que medida iniciativas desse tipo contribuem para a orientação dos investidores interessados em ativos mais sustentáveis?

Felipe Hanszmann e Caio Brandão Teixeira Leite: O objetivo dos investidores no Brasil e no mundo tem mudado ao longo dos últimos anos. Além do foco no lucro, também se busca propósito. Assim, esse tipo de iniciativa tende a ser muito bem-visto pelo mercado, uma vez que incentiva as empresas a desenvolverem negócios e produtos mais sustentáveis e auxilia na tomada de decisão do investidor, tornando todo o processo mais transparente.


De que maneira indicadores como o ISE podem ficar suscetíveis ao indesejado efeito de greenwashing?

Felipe Hanszmann e Caio Brandão Teixeira Leite: Assim como em outras avaliações de sustentabilidade empresarial, os questionamentos carregam um certo grau de subjetividade, sendo a empresa a principal responsável por avaliar e formular as respostas que serão divulgadas ao mercado — ou seja, elas não são avaliadas e verificadas por um agente externo e desinteressado. A criação de certificações (ou formas alternativas de validação) pode ajudar a mitigar esse tipo de risco, uma vez que os certificadores poderiam atuar como gatekeepers.

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