Processos sucessórios turbulentos marcam 2024

Eleição de conselheiros e indicação de presidentes de companhias apontam para interferência do governo federal

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O processo de indicação e seleção de conselheiros de administração e diretores-presidentes (CEO) de empresas com participação do governo federal vem sendo ruidoso neste ano. O foco das atenções primeiramente esteve na Vale, por conta da tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de emplacar o ex-ministro Guido Mantega na presidência da mineradora. Então os holofotes se voltaram para a Petrobras, cujo conselho decidiu não distribuir dividendos extraordinários neste ano – resultando no anúncio de que um dos conselheiros de administração da petrolífera será representante do Ministério da Fazenda. Agora, a Previ, fundo de previdência fechada dos funcionários do Banco do Brasil, tenta eleger um membro para o conselho de administração da Vibra.

Na Vale, a questão envolveu a sucessão do atual diretor-presidente, Eduardo Bartolomeo, cujo mandato inicialmente iria até o dia 26 de maio – a intenção do governo era emplacar Mantega como sucessor, mas houve forte resistência no mercado, e o presidente Lula criticou o processo de sucessão da mineradora.

Como a política de sucessão da companhia estipula que o processo de seleção do CEO comece com antecedência de quatro a seis meses antes do término do seu mandato, o processo se iniciou no início do ano. Em 2 de fevereiro, um comitê de seleção conduziu a avaliação de Bartolomeo. No dia 15, o conselho se reuniu para avaliar a questão, mas ficou dividido. De um lado, metade dos conselheiros recomendou a recondução de Bartolomeo ao cargo. A outra metade queria um processo de seleção de outro executivo, feito no mercado a partir de uma lista tríplice.

O conselho de administração da mineradora conta com treze conselheiros, sendo sete independentes, dois da Previ, um do Bradesco, um do grupo Cosan, um do Mitsui e um dos funcionários. Na primeira reunião para tratar da sucessão, cinco independentes e o representante da Mitsui votaram a favor da recondução de Bartolomeo. Dois independentes e os demais conselheiros foram contrários. O representante da Cosan se absteve.

Após o racha no conselho, ocorreu uma nova reunião (em 8 de março) e se decidiu pela permanência de Bartolomeo até dezembro e pela contratação de headhunter para selecionar o executivo que o substituirá. Nessa reunião, todos os conselheiros votaram a favor da escolha de novo CEO exceto dois independentes, que votaram contra (José Penido e Paulo Hartung). Em seguida, Penido renunciou e, em carta enviada ao colegiado no dia 11 de março, alertou para uma condução manipulada do processo sucessório e “nefasta influência política”.

Vibra e Petrobras 

Resultante da privatização da BR Distribuidora, a Vibra tem a Previ como uma importante acionista. Em meados de marco, o fundo de pensão aumentou a sua participação na distribuidora de combustíveis para além de 5%. Em seguida, pediu a adoção de voto múltiplo na assembleia que irá deliberar sobre a eleição dos conselheiros de administração, marcada para o dia 18 de abril. Pelo voto múltiplo, ocorre a votação individual dos conselheiros. Outra forma de votação, proposta pela companhia, é por chapa – que seria eleita em conjunto.

A chapa proposta pela administração da Vibra é formada por ex-presidentes de grandes empresas: Sérgio Rial (Santander), Fabio Schvartsman (Vale), Nildemar Secches (BRF) e presidentes de grandes companhias, como Walter Schalka (Suzano) e o megainvestidor Ronaldo Cezar Coelho. A indicação deste último provocou desconforto, uma vez que ele também tem participação relevante na companhia (de 8,58% do capital, por meio do fundo Samambaia). O nome de Schvartsman também não foi bem recebido, já que ele era presidente da Vale à época da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho (MG). O diretor de participações da Previ, Fernando Melgarejo, disse ao jornal Valor Econômico que a intenção de eleger um membro do conselho é por conta da transformação do setor e proposta de fusão com a Eneva, negando interferência política do governo.

Na Petrobras, a indicação do Ministério da Fazenda para o conselho da petrolífera é de Rafael Dubeux, secretário-executivo adjunto. O colegiado da estatal é formado por onze conselheiros, sendo seis representantes do governo. A indicação de Dubeux foi tida como uma forma de contrabalançar a influência do Ministério das Minas e Energia e facilitar o diálogo com o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

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