Operação Greenwashing acende alerta para créditos de carbono
Impactos do esquema de fraudes fundiárias descoberto pela Polícia Federal ainda são incertos
Um esquema de duplicação e falsificação de títulos de propriedade, investigado pela Polícia Federal (PF) por meio da Operação Greenwashing, deixou prejuízos no mercado de capitais – e agora a questão que se coloca é qual será o impacto, a médio e longo prazos, sobre o interesse dos investidores e gestores de recursos pelos créditos de carbono gerados em projetos de conservação florestal, especialmente os localizados na Amazônia.
Deflagrada no dia 4 de junho, a Operação Greenwashing investigou um esquema de apropriação de terras públicas, nas quais estavam projetos de conservação florestal que geraram créditos de carbono vendidos a investidores e empresas que desejavam compensar, no mercado voluntário de carbono, as suas emissões.
Embora a existência dos créditos de carbono em si não tenha sido questionada, a propriedade das terras onde estavam as florestas que geraram esses créditos, sim. O empresário Ricardo Stoppe Junior foi apontado como um dos responsáveis pela apropriação de 538 mil hectares de terras públicas por meio do esquema de falsificação. De acordo com a Polícia Federal, as fraudes fundiárias foram iniciadas em Lábrea (AM), duraram mais de uma década e contaram com a participação de servidores públicos. Além disso, havia exploração florestal e pecuária em áreas protegidas, e, segundo a PF, ocorreu a exploração ilegal de mais de um milhão de metros cúbicos de madeira em tora, com um dano ambiental estimado em R$ 606 milhões.
As áreas irregularmente ocupadas teriam gerado cerca de R$ 180 milhões de créditos de carbono. Estes últimos eram a garantia de um empréstimo da Stoppe Ltda, que lastreava Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) emitidos pela Eco Securitizadora, e que foram parar na carteira do Fiagro-FIDC Caetê (gerido pela Ceres Investimentos e administrado pela Vórtx).
Os projetos que geravam créditos de carbono foram desenvolvidos pela Carbonext e certificados pela conceituada certificadora de créditos de carbono Verra. Em meados de junho, a Verra suspendeu as contas de três projetos: Unitor e Sempre-viva (do tipo REDD+) e Fortaleza Ituxi (do tipo REDD). Projetos de REDD são de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal. De acordo com o portal Mongabay, empresas como Gol, Nestlé, PwC, Toshiba, Spotify e Boeing compraram os créditos dos projetos Fortaleza Ituxi e Unitor.
Como eventos desse tipo, que afetam a credibilidade do mercado voluntário de carbono, vêm sendo esporadicamente noticiados, algumas empresas estão buscando certificações para atestar que adquirem créditos de carbono de qualidade. No mês passado, a Natura foi a primeira indústria (e a segunda companhia) do mundo a obter a certificação platinum da Iniciativa de Integridade dos Mercados de Carbono Voluntários (VCMI), que atesta as compensações em créditos de alta qualidade, e que são acompanhadas de uma estratégia de descarbonização alinhada com a ciência.