Movimentos de consolidação devem impulsionar M&As no País

Cenário é de empresas com dinheiro em caixa e ativos “baratos”

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Um dos muitos efeitos econômicos da pandemia de covid-19 começa a ficar bem claro no mercado brasileiro passado um ano da emergência sanitária: a consolidação de setores importantes por meio de operações de fusões e aquisições. As transações têm sido relevantes, algumas até com vários interessados, como aconteceu recentemente no caso da Hering, vendida para o Grupo Soma por cerca de 5 bilhões de reais depois de ter suscitado uma oferta da Arezzo.

De acordo com Henrique Martins, sócio do Candido Martins Advogados, contribui para esse cenário o fato de a pandemia ter colocado em pontas opostas as empresas que conseguiram se fortalecer durante a crise, acumulando caixa, e aquelas que enfrentaram mais dificuldades. Essa dinâmica, explica, acabou gerando mais oportunidades para M&As.

“Os movimentos de consolidação de determinados players em alguns mercados vêm ocorrendo, dentre outros fatores, pela possibilidade que grupos capitalizados enxergaram para adquirir players e demais concorrentes por um valor significativamente inferior pelo que essas empresas seriam avaliadas em situações normais de mercado”, analisa Paula Chaves, sócia do Coimbra & Chaves Advogados.

As operações nessa onda têm apresentado uma particularidade: em geral envolvem apenas capital nacional. “Os investidores estrangeiros estão mais céticos com o Brasil, mas grupos locais estão com apetite e há muito ativo ‘barato’ no mercado por conta da pandemia”, diz Martins, destacando setores como saúde, educação, vestuário e agronegócio. “Nos setores de saúde e educação, percebe-se de forma mais clara o movimento de grandes grupos buscando realizar aquisições estratégicas, voltadas para empresas do setor que não estavam financeiramente habilitadas a enfrentar os efeitos da pandemia”, ressalta Chaves.

A seguir, Martins e Chaves tratam de outros aspectos da atual consolidação de alguns setores no País.


 

As consequências econômicas da pandemia têm intensificado os movimentos de consolidação de mercados no Brasil. Na sua opinião, em que medida esse cenário impacta as operações de M&A?

Muitos mercados, como os de saúde, agronegócio e educação, estão em forte crescimento e consolidação. As consequências econômicas da pandemia de covid-19 resultaram em fortalecimento de algumas empresas, as que se anteciparam adotando medidas para diminuir despesas e aumentar receitas. Após mais de um ano de pandemia, essas companhias estão com dinheiro em caixa e mais fortalecidas. Há grandes grupos, como Rede D’Or, Notredame, Dasa e outros, com muito caixa e competindo por ativos na consolidação.

Outros grupos, como Hospital Care e Kora, desistiram do IPO [oferta pública inicial de ações] por ora, mas continuam fortes no M&A para consolidar operações e crescer. Na área da educação, a pandemia acelerou o ensino online e quem se preparou está agora colhendo os frutos. Um setor que vai começar uma forte consolidação é o de vestuário e moda. Recentemente houve a disputa da Hering pela Arezzo e pelo Grupo Soma.

Isso é apenas o começo, pois enquanto alguns grupos estão fortalecidos, outros sofreram e precisam de caixa. A consolidação é algo natural na falta de investimento estrangeiro. Os investidores estrangeiros estão mais céticos com o Brasil, mas grupos locais estão com apetite e tem muito ativo “barato” no mercado por conta da pandemia.

A pandemia foi e vem sendo um momento desafiador para diversos setores econômicos nacionais. Nesse aspecto, os movimentos de consolidação de determinados players em alguns mercados vêm ocorrendo, dentre outros fatores, pela possibilidade que grupos capitalizados enxergaram para adquirir players e demais concorrentes por um valor significativamente inferior pelo que essas empresas seriam avaliadas em situações normais de mercado. Essa queda de valor experimentada por diversas empresas as torna, em determinados mercados, mais atrativas para uma aquisição, uma vez que os compradores conseguem impor melhores condições negociais nessas operações, frente à necessidade imediata de recursos experimentadas pelas empresas targets.


Há setores em que o movimento se mostra mais intenso? Quais seriam?

Entendo que agronegócio, educação, saúde, vestuário e moda. No agronegócio, por exemplo, além da consolidação na área de distribuição de insumos, existe uma grande demanda por máquinas agrícolas e, portanto, um mercado secundário de peças usadas. Alguns grupos já começaram a entrar nessa área. Outro setor em que o movimento está bem intenso é o de infraestrutura, com diversas licitações ocorrendo e muitas ainda por vir.

Dentre os setores que parecem mais aquecidos e propensos aos movimentos de consolidação, destacam-se os relacionados à tecnologia em geral, além de saúde e educação. Operações de M&A relacionadas à área da tecnologia (como tecnologia da informação e fintechs) nunca deixaram de ser o foco no cenário nacional, uma vez que a demanda por soluções tecnológicas não parece ter sido tão impactada pelas restrições de atividades econômicas impostas em decorrência da pandemia.

Já nos setores de saúde e educação, percebe-se de forma mais clara o movimento de grandes grupos buscando realizar aquisições estratégicas, voltadas para empresas do setor que não estavam financeiramente habilitadas a enfrentar os efeitos da pandemia. Outra análise que ajuda a explicar o movimento de consolidação nos mercados de saúde e educação possa ser a projeção pós-pandemia, em que a demanda por produtos e serviços de saúde tende a permanecer em alta e a demanda reprimida para serviços de educação comece a ser absorvida pelas empresas do setor educacional.


Na sua avaliação, existe a possibilidade de as operações de M&A neste ano no Brasil superarem os números de 2020? Por quê?

Como há muitos ativos baratos e empresas fortalecidas em termos de caixa e estrutura apesar da pandemia, acredito que sim. Contudo, os M&As serão de grupos no Brasil e envolverão recursos dessas empresas e de alguns family offices. Os investidores estrangeiros estão mais céticos por conta do cenário político e da falta de reformas.

A expectativa é essa. Em 2020, vivenciamos um primeiro semestre em que as atividades econômicas foram, em diversos setores, paralisadas ou reduzidas sem que houvesse uma expectativa realista para a sua normalização. A partir do segundo semestre do ano passado e ao longo dos primeiros meses deste ano, é nítido o crescimento do otimismo do mercado frente ao fim, ou ao menos, redução, das restrições econômicas decorrentes da pandemia. O avanço significativo da vacinação no Brasil é o melhor termômetro para se projetar o crescimento das operações de M&A, uma vez que permitirá a diversos empresários e grupos de investidores focarem menos em manter suas atividades, e mais em “desengavetar” projetos de investimentos, que envolvem, dentre outras possibilidades, a realização de operações de M&A.


Como você avalia o grau de confiança dos investidores estrangeiros quanto às possibilidades de M&A no Brasil? Eles ainda têm interesses no mercado local ou as operações tendem a ser feitas apenas por compradores/empresas nacionais?

O grau de confiança diminuiu muito. Diante da falta das reformas fiscal e administrativa, da polarização política e da total desconfiança no Judiciário — o que inclui o Supremo Tribunal Federal (STF) —, o investidor estrangeiro está procurando alternativas. No entanto, o Brasil ainda oferece muitas oportunidades, ativos baratos, moeda fraca em comparação com outros países em desenvolvimento e uma certa estabilidade política, o que ainda atrai investidores estrangeiros. Mas como existe muito caixa nas empresas nacionais e proveniente de gestoras de grandes fortunas, o mercado está se voltando para esses investidores sem precisar depender de estrangeiros. De fato, “o Brasil não é para amadores”.

O investidor em geral, seja ele nacional ou estrangeiro, mostra predileção em realizar operações em mercados que apresentem sinais mais significativos de superação da pandemia. Até mesmo pelas suas dimensões continentais, significativa demanda interna para consumo de bens se produtos, e destaque em determinados setores econômicos, como o do agronegócio, o Brasil nunca deixou de apresentar boas oportunidades de investimentos para os investidores estrangeiros (inclusive para operações de consolidação de mercado). Todavia, em um momento em que a disputa por capital externo se mostra mais acirrada, é necessário que o País apresente sinais mais claros de recuperação, mostrando ao mercado internacional que está no caminho certo para superar a pandemia.

Por fim, é importante destacar que, com a desvalorização acentuada do real frente ao dólar, os investidores estrangeiros podem avaliar com maior interesse a realização de investimentos em território brasileiro.

2 Comentários
  1. Marcio Roberto Diz

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