Mais mulheres em conselhos de administração

Presença feminina avançou na última temporada de assembleias, mas caminho ainda é longo

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A mais recente temporada de assembleias de companhias abertas em que foram eleitos membros para os conselhos de administração evidenciou um movimento crescente: mais mulheres passaram a ocupar assentos nos boards. De acordo com pesquisa da consultoria Comdinheiro, divulgada pelo jornal Valor Econômico, depois dessas assembleias cerca de 16% das vagas ficaram com mulheres no caso das empresas listadas cujas ações integram o Ibovespa. Em 2019, o percentual era de 11,4% e, em 2016, de 6,9%.

O avanço é evidente, mas ainda é necessário percorrer um longo caminho até que a igualdade de gênero nas altas lideranças de empresas seja alcançada, destaca Paula Chaves, sócia do Coimbra & Chaves Advogados. “A jornada ainda é longa para alcançarmos um cenário de igualdade de condições entre homens e mulheres na disputa por cargos de estratégicos e diretivos. Mas é nítido que temas como o empoderamento feminino e a igualdade de gênero vêm sendo mais intensivamente debatidos em nossa sociedade”, comenta.

Ela observa, ainda, que hoje existe uma crescente busca dos investidores por companhias que adotem políticas e práticas voltadas para questões ambientais, sociais e de governança (ESG). “A igualdade de gênero, como não poderia deixar de ser, faz parte dessa equação do investimento ESG, sendo uma importante questão social no Brasil, ainda tão marcado pela baixa inclusão da presença feminina em cargos de alta gestão. Isso sem abordar questões étnicas e raciais, que expõem uma realidade ainda pior de falta de diversidade”, ressalta.

A seguir, Chaves trata de outros aspectos da igualdade de gênero na liderança de empresas.


Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico, cresceu no País a participação de mulheres em conselhos de administração de companhias listadas no Ibovespa, para pouco mais de 16% dos assentos depois da última temporada de eleições para os boards. Na sua opinião, o que estaria provocando esse aumento e qual a importância desse avanço?

Paula Chaves: A jornada ainda é longa para alcançarmos um cenário de igualdade de condições entre homens e mulheres na disputa por cargos de estratégicos e diretivos. Feito esse necessário destaque, é nítido que temas como o empoderamento feminino e a igualdade de gênero vêm sendo mais intensivamente debatidos em nossa sociedade.

Associando-se a isso, as companhias brasileiras, em geral, vêm buscando um maior nível de boas práticas e governança corporativa, o que gera efeitos como a escolha dos membros do conselho de administração e da diretoria ocorrendo por critérios técnicos e mais objetivos, o que permite uma competição mais justa entre os candidatos. Também é válido destacar que já há estudos que indicam que a diversidade na composição dos órgãos diretivos das companhias estimula e enriquece as discussões e a tomada de decisões.

Esse avanço, apesar de não ocorrer na velocidade desejada, representa uma sinalização de que as companhias brasileiras estão se movimentando para reduzir o abismo existente entre homens e mulheres quando se trata de oportunidades para o acesso a posições de alta liderança. Essa evolução simboliza um valioso passo em busca de um ambiente corporativo que valoriza, cada vez mais, a inclusão em diferentes níveis.


O ritmo de entrada de mulheres nos conselhos no País está adequado ou ainda precisaria acelerar?

Paula Chaves: Apesar do crescimento, a proporção entre homens e mulheres ocupando cargos de destaque, como os de conselhos de administração, está longe de ser adequada. Mesmo diante do aumento da participação feminina nas posições de alta liderança, o percentual de 16% dos assentos ocupados por mulheres continua aquém do ideal — especialmente quando se está em um país em que as mulheres não apenas são a maioria da população, mas também têm, em média, tempo maior de estudo formal quando comparadas aos homens. Além disso, é importante destacar que, quando se avalia companhias fechadas e empresas familiares, a barreira é ainda maior para a inclusão feminina, já que os sócios e controladores tendem a adotar critérios menos técnicos para a escolha e a composição dos cargos diretivos, o que tende a levar a uma menor diversificação das suas composições.


Em que medida as pressões de investidores relacionadas ao recorte ESG estariam resultando em maior presença feminina nos conselhos das maiores companhias abertas do País?

Paula Chaves: Há uma crescente busca dos investidores por companhias que adotem políticas e práticas voltadas para questões ambientais, sociais e de governança (ESG). A igualdade de gênero, como não poderia deixar de ser, faz parte dessa “equação” do investimento ESG, sendo uma importante questão social em nosso País, ainda tão marcado pela baixa inclusão da presença feminina em cargos de alta gestão (isso sem abordar questões étnicas e raciais, que expõem uma realidade ainda pior de falta de diversidade).

Tendo em vista essa mudança de perfil de uma parcela significativa de investidores que buscam companhias mais inclusivas e diversas para investirem, é natural que as companhias abertas reajam às pressões desses investidores e, com isso, estimulem o aumento da presença feminina nos conselhos de administração.


Você acredita na manutenção (ou aceleração) dessa tendência nos próximos anos? Qual a chance de o movimento em prol da diversidade étnica e de origem social nos conselhos de administração seguir o mesmo caminho num futuro próximo?

Paula Chaves: Acredito que vivemos num mundo em que, apesar de todas as dificuldades, caminha na direção da evolução. Com esse espírito, o estímulo a uma maior diversidade étnica e social na composição dos cargos de alta gestão é um avanço não apenas desejado, mas completamente possível. Ainda há muito o que se fazer, mas as companhias brasileiras vêm abrindo mais espaço à diversidade de gênero, faixa etária, raça, étnica e social.

A difusão do investimento ESG entre os investidores brasileiros é um importante passo nesse sentido de promoção da diversidade dentre das companhias, mas, para que possamos ver, com a rapidez desejada, uma maior diversidade e representação entre os membros dos conselhos de administração e de outros órgãos das companhias, é preciso que haja um discurso alinhado entre sociedade civil e investidores, cobrando e exigindo das companhias políticas concretas de estímulos à diversidade.

 

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