Cai participação de estrangeiros em ofertas de ações no Brasil

Aversão a risco afasta esses investidores, em contraposição ao movimento das pessoas físicas

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Nesse atípico ano de 2020 as empresas continuaram buscando a bolsa de valores como caminho para captação de recursos, seja com ofertas iniciais de ações (IPOs) ou com operações subsequentes (follow-ons). O que tem chamado a atenção, no entanto, é a constante diminuição do interesse dos investidores estrangeiros pelo mercado acionário brasileiro.

Dados divulgados recentemente pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) evidenciam essa tendência de “fuga” dos estrangeiros do risco de investimento no Brasil. A participação desse grupo entre os subscritores de ações caiu de 67,3% em 2015 para apenas 24,4% de janeiro a setembro deste ano. Desde 2014 essa fatia tem pequenas oscilações, mas despencou a partir de 2019 — nos nove primeiros meses do ano passado o percentual estava em 44,6%. Numa trajetória contrária, verificou a Anbima, a presença das pessoas físicas está em ascensão, tendo passado de 0,6% em 2015 para 8,2% nos três primeiros trimestres de 2020.

Na avaliação de Pedro Mourão, sócio do Nankran & Mourão Sociedade de Advogados, ajudam a explicar o comportamento mais recente dos estrangeiros a crise global decorrente da pandemia de covid-19, a desaceleração econômica no Brasil e os problemas políticos do País. “Os estrangeiros sempre buscam países com potencial de crescimento e baixo risco”, destaca.

De toda forma, afirma Mourão, o fato de aumentar a participação dos investidores nacionais mostra que o mercado local não está mais totalmente dependente do capital de fora.


Dados divulgados recentemente pela Anbima comprovam uma queda acentuada da participação de investidores estrangeiros em ofertas públicas de ações (IPOs e follow-ons) no Brasil. Na sua avaliação, quais fatores explicam essa retração?

A queda da participação de investidores estrangeiros em ofertas públicas de ações se deve a uma combinação de fatores. Entram na conta a crise global ocasionada pela pandemia de covid-19, a desaceleração econômica no Brasil e também todos os problemas políticos recentes no País. Ora, o investidor estrangeiro busca, como se sabe, países com possibilidade de crescimento e risco baixo.

A título de exemplo: dados mostram que em 2018, até o terceiro trimestre, os estrangeiros eram responsáveis por 63,7% do volume captado, enquanto neste ano de 2020, o percentual corresponde a apenas 24,4%.

Isso não quer dizer, contudo, que com a estabilização da crise econômica e arrefecimento dos problemas políticos o número de investidores estrangeiros vai voltar a subir.

O advogado Pedro Franco Mourão, autor no Legislação & Mercados, diz que apesar da queda de investimentos estrangeiros, a quantidade de investidores nacionais vem crescendo e favorecendo o aquecimento do mercado


A diminuição do apetite de investidores de fora por ações de companhias brasileiras é saudável para o mercado de capitais nacional?

Na minha opinião, o investimento de estrangeiros sempre é favorável para o mercado de capitais, demonstrando como o País está sendo visto por outros mercados. De toda forma, com o aumento de investidores nacionais, há o lado bom de se verificar que o mercado não é mais totalmente dependente dos estrangeiros. A bem da verdade, a quantidade de investidores nacionais vem crescendo e favorecendo o aquecimento do mercado.


A crescente presença de pessoas físicas na bolsa tem condições de compensar a saída dos estrangeiros?

O número de investidores pessoas físicas na bolsa vêm crescendo exponencialmente nos últimos anos, sendo que os dados demonstram que já chega a quase 3 milhões em 2020. Portanto, sem dúvida alguma, os dados demonstram um crescimento importante na consciência financeira dos brasileiros, principalmente entre os jovens. Mas diante do tamanho da população brasileira ainda há muito espaço para avanços.

 

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