Aumentam operações com títulos verdes no País
Ganhos com emissões de papéis sustentáveis vão além do aspecto reputacional
É inegável o fortalecimento recente da agenda ambiental de governos, empresas e sociedades mundo afora, o que também movimenta o mercado de capitais. Essa nova dinâmica tem como efeito, por exemplo, a consolidação da ideia de que fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) são essenciais para a perenidade dos negócios e também para a garantia de retorno de longo prazo dos investimentos.
É nesse contexto que tem aumentado a emissão de bônus sustentáveis pelas empresas. Conforme dados da plataforma Sitawi, no ano passado houve crescimento de 52% nas emissões de papéis dessa natureza no País na comparação com o ano anterior.
Como observa Celso Contin, sócio do Vieira Rezende Advogados, as empresas brasileiras têm emitido títulos sustentáveis no exterior — segundo ele, a maioria das operações — e também no mercado interno. No primeiro caso, os mais comuns são bonds e global notes; no segundo, debêntures de infraestrutura relacionadas à área de energia renovável, CRIs (certificados de recebíveis imobiliários), CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio) e letras financeiras de emissores dos segmentos agropecuário, florestal, de bioenergia e saneamento.
O desenvolvimento desse mercado é de grande importância, sob vários aspectos. Como explica o advogado, a impressão inicial era de que a emissão de bonds sustentáveis representaria apenas um ganho reputacional para os emissores. “Entretanto, estudos já demonstram que os efeitos de se comprometer com metas ESG vão muito além disso”, acrescenta.
A seguir, Contin* trata de outros pontos relacionados à emissão de títulos verdes.
Quais são as principais modalidades de green bonds que têm sido emitidas por empresas brasileiras?
Em volume financeiro, a maior parte das operações até agora foi voltada para o mercado externo. Isso porque investidores estrangeiros estão à frente dos brasileiros na adoção de estratégias e políticas de investimentos voltadas para ESG. Os instrumentos mais comumente utilizados no mercado internacional foram bonds e global notes, instrumentos aos quais investidores internacionais estão habituados — como os emitidos pela Klabin, por exemplo. No Brasil, a agenda ESG é liderada pela emissão de debêntures de infraestrutura relacionadas a energia renovável, setor de impacto socioambiental positivo por essência (“core ESG”). Há também a emissão de debêntures comuns, CRAs, CRIs e letras financeiras pelos setores agropecuário, de bioenergia, florestal e, mais recentemente, de saneamento.
Do ponto de vista das companhias, qual a importância dessa categoria de bônus? Elas ganham mais com a nova janela de financiamento ou com os dividendos reputacionais das operações? Ou uma combinação desses dois aspectos?
A impressão inicial de todo mundo é que seria um ganho reputacional. Entretanto, estudos já demonstram que os efeitos de se comprometer com metas ESG vão muito além disso. Trata-se da visão segundo a qual uma empresa, ao deixar de buscar somente retorno aos acionistas e olhar para todos os stakeholders relacionados direta ou indiretamente à sua atividade, maximiza seu valor de mercado e os lucros no longo prazo.
Assim, em um tempo em que discussões sobre responsabilidade social, sustentabilidade, mudanças climáticas e impacto positivo estão intensamente presentes, agrega-se bastante valor às companhias emitir papéis com o selo “green bond” ou qualquer outro selo ESG. Os investidores, sobretudo institucionais, também passam a buscar papéis ESG nesse contexto, como uma forma de alocação consciente dos recursos, o que vem alinhado às estratégias mais atuais de investimento.
Há um círculo virtuoso para a emissão e o investimento em títulos ESG, a tal ponto que se pode esperar um futuro no qual o atendimento a aspectos ESG será pré-requisito para a obtenção de financiamento por meio do mercado de capitais.
Qual o potencial de crescimento para os títulos verdes no País, considerando a intensificação das demandas ESG por parte dos investidores?
O potencial para crescimento dos títulos verdes no País é imenso. Conforme noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo[1], serão necessários investimentos da ordem de 1,3 trilhão de dólares para o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, de até 2030 reduzir as emissões de gases do efeito estufa a 43% abaixo dos níveis de 2005.
Fundos, bancos e empresas já montaram suas áreas específicas voltadas para ESG. O BNDES criou uma área ASG (usando o termo em português) e tem uma agenda forte para investimentos ASG. À medida que esses investimentos vão mostrando retorno, bem como as empresas que adotam política ESG notam o aumento do seu valor, mais e mais operações ESG ocorrerão.
[1] https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,uso-de-floresta-e-geracao-de-energia-predominam-entre-projetos-financiados-por-titulo-verde-no-pais,70003431753